“Tivemos essa experiência recente na história sob domínio da União Soviética. Sabemos o que é ser perseguido. Se a Rússia invadir, abriremos nossas cassa para igrejas clandestinas”, diz líder religioso local

À medida que aumentam os temores sobre uma possível invasão russa, os cristãos na Ucrânia estão se preparando. Eles não esqueceram o que é ser perseguido.

Se de fato a Rússia está prestes a invadir a Ucrânia, provavelmente será ao leste e as igrejas na parte ocidental do país estão se preparando, disse o presidente do Seminário Teológico Batista Ucraniano, Yarsolov “Slavik” Pyzh. “As igrejas já concordaram. Aqueles que estão na parte ocidental da Ucrânia disseram que, se algo acontecer, abriremos nossas casas e nossas igrejas para os cristãos de outras partes do país”, afirmou Pyzh.

As igrejas no leste da Ucrânia se tornariam clandestinas se a Rússia decidir e conseguir assumir o controle dessa parte do país, disse Pyzh. “Você tem que entender que historicamente tivemos essa experiência antes sob a União Soviética. Então a igreja não esqueceu o que significa ser perseguido, e acho que vamos reorganizar e fazer o que sempre fazemos: continuar pregando o evangelho”.

A Portas Abertas, que há mais de 60 anos trabalha com os cristãos perseguidos no mundo,  convida todas as partes a proteger ativamente a liberdade religiosa, o que inclui reconhecer e proteger o direito de todos os cristãos – ortodoxos e não ortodoxos – de se reunir e adorar livremente, em particular ou em público, em massa ou individualmente. A organização pede às autoridades em todas as regiões que forneçam o reconhecimento legal das igrejas, independentemente de seu status de registro ou tamanho de sua congregação, permitindo que funcionem pacificamente com acesso igual a todos os recursos e protejam a liberdade de culto da Igreja Cristã.

Atividades cristãs ilegais

As igrejas na região de Donbass, no leste da Ucrânia, estão sob crescente pressão desde 2014, depois que protestos contra o governo levaram a uma revolta apoiada pela Rússia nas províncias de Donetsk e Luhansk, onde os rebeldes estabeleceram autoproclamadas repúblicas independentes.

A guerra entre separatistas apoiados pela Rússia e o governo em Kiev ao longo dos anos fez com que milhões de pessoas fugissem de suas casas e matou pelo menos 14.000 pessoas, causando uma crise humanitária.

Em novembro, a Aliança Evangélica Europeia declarou que Donbas é a área da Europa “onde a Igreja mais sofre” por causa de conflitos e violações da liberdade religiosa.

As autoridades de ambas as repúblicas autodeclaradas impuseram regras, exigindo o registro de organizações religiosas. Cumprir a regra acabou sendo extremamente difícil para outras igrejas além daquelas alinhadas com a Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Moscou. Uma lista de dezembro de 2019 de 195 organizações religiosas registradas pelas autoridades de Luhansk mostrou que nenhuma permissão foi concedida a nenhuma comunidade protestante.

“Como nos velhos tempos da União Soviética, a obrigação de se registrar junto às autoridades está sendo usada para tornar ilegais certas atividades cristãs. Nenhum registro significa que não há acesso a gás, eletricidade ou água – tornando as atividades da igreja praticamente impossíveis”, afirmou um analista de perseguição da Portas Abertas.

Em junho do ano passado, três igrejas protestantes foram proibidas pelas autoridades da autodeclarada República Popular de Donetsk e outras tiveram seus prédios confiscados. Em agosto, livros dos teólogos Charles Spurgeon e Billy Graham foram colocados em uma lista de literatura “extremista” proibida por um tribunal da República Popular de Luhansk.

Como as chamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk não são oficialmente reconhecidas pela comunidade internacional além da Rússia, elas não estão vinculadas ao direito internacional dos direitos humanos.

“O reconhecimento oficial russo das repúblicas de Luhansk e Donetsk apenas estimulará os rebeldes a continuar suas práticas”, porque então a legislação oficial russa será implementada, como no caso da Crimeia.

A Perseguição aos cristãos na Rússia

Até 2021, a Rússia era um dos países entre os 50 que mais perseguem cristãos no mundo. Hoje, em 62º lugar, ela configura entre os países em observação e ainda apresenta casos de perseguição.

Na Rússia, a pressão contra cristãos é maior da vida privada e na igreja, com cristãos enfrenatando a perseguição de familiares e líderes muçulmanos. Amigos e aldeões muçulmanos exercem pressão particularmente sobre os convertidos nas regiões muçulmanas (especialmente no norte do Cáucaso). Em todo o país, o governo impõe restrições às atividades da igreja ortodoxa não russa. A aprovação da legislação antiterrorismo em Julho de 2016 resultou em uma proibição total de algumas denominações cristãs no início de 2017. As restrições trazidas por essa legislação estão afetando cada vez mais os cristãos que não são da Igreja Ortodoxa Russa. Quaisquer conexões que os cristãos na Rússia tenha com igreajs e organizações no exterior estão sob vigilância e limitações crescentes.