Os convertidos a Cristo são pressionados pela família e comunidade em Bangladesh, onde a identidade tribal também causa perseguição
Fonte: Portasabertas
Com 63 pontos, Bangladesh se classificou em 38º lugar na Lista Mundial da Perseguição (LMP) 2020. Isso representa um aumento de cinco pontos em comparação com a LMP 2019 e reflete em parte uma situação que só pode ser descrita como tensa para a minoria cristã, ainda mais para os cristãos ex-muçulmanos ou ex-hindus.
Opressão islâmica, nacionalismo religioso e antagonismo étnico são os três tipos de perseguição predominantes em Bangladesh, país de maioria muçulmana no Sudeste Asiático. O primeiro, opressão islâmica, atinge todos os cristãos de Bangladesh, embora o país seja tanto secular quanto islâmico, segundo a Constituição. A família e a comunidade são fontes de perseguição e monitoram as atividades dos convertidos, especialmente em áreas rurais, o que restringe a vida diária dos mesmos mais intensamente do que a ação de grupos radicais.
Um exemplo do segundo tipo de perseguição (nacionalismo religioso): em Bangladesh o número de budistas é o dobro que o de cristãos. Os budistas estão mais concentrados entre os grupos tribais de Chittagong Hill Tracts, na fronteira com Índia e Mianmar. Entre esses povos, o mais conhecido é o povo chakma. Nos últimos anos, um grande número de chakmas se converteu a Cristo. Isso tem feito com que líderes tribais budistas pressionem mais os cristãos. A pressão não vem somente da família, amigos e comunidade, mas também de budistas radicais que têm o objetivo de fortalecer o budismo entre os grupos tribais. A região se tornou ainda mais volátil com a entrada de refugiados rohingya (cerca de 770 mil), vindos de Mianmar.
O nacionalismo religioso está misturado com o antagonismo étnico. Isso significa que um novo convertido que vem de um contexto tribal é forçado a seguir as normas e valores ancestrais de seu povo, sejam eles religiosos ou não. Essa é uma realidade para povos como os chakma, tripura e marma. Os cristãos também podem ser alvos de radicais islâmicos porque são vistos como aliados do governo, pois preferem reter o secularismo do país de acordo com a Constituição.
O padrão da perseguiçãoNo geral, a pressão aos cristãos em Bangladesh aumentou ligeiramente em todas as esferas da vida, causando o aumento da média de pressão da pontuação 10 no ano anterior para 10,7. Isso reflete o crescimento da pressão para todos os cristãos, mas especialmente os convertidos ao cristianismo. A crescente difícil situação dos convertidos entre os refugiados rohingya, que fugiram de Mianmar em 2017, acrescentou ainda mais pontos.
A pressão é mais forte na comunidade e vida privada, onde convertidos são principalmente afetados, mas todos os cristãos enfrentam pressão nas esferas nação e igreja. A violência contra cristãos aumentou de 7,8 para 9,4 pontos. Não houve mortos, mas mais ataques contra igrejas e prisões foram relatados do que no período anterior.
O perigo da islamizaçãoEm janeiro de 2017, o governo decidiu tornar os livros didáticos mais condizentes com os grupos islâmicos conservadores. Os livros agora têm a letra “o” (de “orna”, véu usado pelas meninas no começo da puberdade) e que descreve uma menina muçulmana devota. Outros livros mudaram os nomes que soavam como hindus ou cristãos. O governo também baniu os capítulos sobre a jihad (guerra santa) dos livros didáticos do Ensino Fundamental 2. Em maio de 2018, a Liga Awami, no poder, recebeu um bilhão de dólares da Arábia Saudita para construir 560 mesquitas em todo o país.
Um dos grandes desafios que Bangladesh enfrenta vem do sistema de madrassas (escolas islâmicas), seja o número oficial de 22 mil ou de 70 mil, segundo estimativas. Nas madrassas oficialmente registradas, ao menos 2 milhões de alunos são treinados, embora esse número possa chegar a 4 milhões, contando-se as não registradas. Assim como no Paquistão, essas madrassas são como “chocadeiras” para treinar estudantes no ódio e na violência, como se tornou evidente pelo fato de nove dos responsáveis pelo ataque em Daca, em julho de 2016, serem alunos de madrassas.