Pastor testemunha os desafios de fazer parte da Igreja Perseguida
Fonte: portasabertas
No início do século 20, os primeiros esforços missionários protestantes para evangelizar a Colômbia foram barrados pela Igreja Católica, estabelecida desde o tempo em que eram colônia espanhola. A solução encontrada foi levar o nome de Jesus até as montanhas. Os mesmos locais que serviam como abrigo para os paramilitares, eram solo fértil para conversão de centenas de pessoas. Porém, a miséria e a desintegração familiar estavam também no local como consequência dos conflitos armados.
Nesse contexto, nasceu Enrique Machado*. Desde pequeno, ele precisava conviver com os gritos da avó materna, que era surda e responsável pelo garoto, após o divórcio dos pais. Além de não ter o que comer, o menino achava que não era querido em casa e por isso também sentia fome de afeto. Como solução para ascender na vida e sair da pobreza, pensou em ser um rebelde armado.
Enquanto ia amadurecendo a ideia, Machado acompanhava a avó aos cultos. “Quando íamos à igreja ela me dizia: ‘Escuta o que o pastor está ensinando, e quando voltarmos para casa, repita para mim’. No momento que aprendi a ler, minha avó conseguiu uma Bíblia e pedia que eu lesse para ela. Pensei que fosse um exercício de leitura, mas tornou-se um discipulado”, lembra. O cristão fazia muitas perguntas a Deus e na leitura da palavra, todas elas eram respondidas. Além disso, a avó era mulher de oração: “Eu me lembro que combinava com meus amigos de ir no dia seguinte para a guerrilha, mas parecia que, coincidentemente, minha avó orava: ‘Senhor, guarde o meu filho. Não permita que ele pegue em uma arma, mas que o sirva’”, testemunha. A prece da idosa penetrava no coração do neto e punha temor nele.
“Prefiro ser viúva de um pastor, a ser mulher de um covarde”
Aos 19 anos, Machado rendeu-se a Jesus e decidiu não entrar para os grupos armados. “Com seis meses de conversão, comecei meu ministério como pregador. Eu era tão apaixonado que ia caminhando pelos povoados falando do evangelho. Cheguei a caminhar 11 horas em apenas um dia para pregar em uma comunidade”, lembra. Com 21 anos, ele pastoreou a primeira igreja e aos 24, se casou. A situação era precária e a única coisa que podia oferecer à esposa era caminhar junto na missão de fazer o nome de Cristo conhecido. Quando foi cuidar de outra igreja no maior centro de paramilitares do país, o pastor restaurou o culto aos domingos, contrariando uma ordem de um líder rebelde. Foi por esse motivo que ele recebeu a primeira ameaça de morte. Ao contar o ocorrido à esposa, ouviu a resposta: “Eu prefiro ser viúva de um pastor, do que mulher de um homem covarde”. O casal orou e decidiu permanecer no local. Com a diretriz de Deus para amar quem o ameaçava, o pastor sempre tinha em mente a seguinte frase como mensagem de Deus: “Porque a arma que desarma é o amor”.
Amor é a arma que desarma
Machado descobriu a data de aniversário daquele que prometeu ser o assassino dele, um dos mais poderosos líderes paramilitares. E resolveu colocar o amor de Deus em ação. Gastou o salário de um mês contratando músicos para fazer uma serenata e escreveu três cartas para o inimigo. A primeira redigiu como se fosse o pai do aniversariante, a segunda como um irmão e a terceira como um filho. Para entrar no acampamento, reuniu-se ao médico do local às 3h da madrugada. Quando os músicos começaram a tocar, o oficial ascendeu a luz e o pastor iniciou a leitura das cartas. Os resultados da ousadia de Machado foram as lágrimas nos olhos do homem e o nascimento de uma amizade.
Essa coragem veio de ter obedecido a voz de Deus que o mandou apenas amar àquele guerrilheiro. “Deus me ordenou: apenas o ame, Enrique, pois a arma que desarma é o amor”
Nesta época, os conflitos na Colômbia ficaram conhecidos mundialmente, e o fundador da Portas Abertas, o Irmão André, foi até o país. Lá, conheceu o trabalho do pastor Machado. Então, o líder colombiano recebeu acompanhamento, ajuda para terminar os estudos e ganhou uma moto para percorrer mais quilômetros levando as boas-novas de Cristo. O Irmão André visitou o acampamento dos paramilitares para compartilhar o testemunho dele e fazer uma proposta de desarmamento. Em 2006, o convite se concretizou porque 26 mil combatentes entregaram as armas e receberam o mesmo número de Bíblias. “Eu tenho sido a pessoa que Deus tem usado para treinar mais pastores na distribuição de literatura cristã e acompanhamento”, conclui Machado.
Hoje, Enrique Machado coordena o trabalho da Portas Abertas na Colômbia para que os cristãos perseguidos se mantenham firmes na fé em Jesus. Em visita ao Brasil, ele viajou por São Paulo e Araçatuba entre os dias 18 de janeiro e 2 de fevereiro. Na ocasião, compartilhou o testemunho em 18 igrejas e impactou mais de 3.400 pessoas com as histórias de irmãos e irmãs, que vivem nas montanhas e enfrentam as consequências da guerrilha no único país da América Latina que está na Lista Mundial da Perseguição 2020, ocupando a 41ª posição.
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