Com duração de pouco mais de uma hora, ele conduziu a entrevista de forma bastante leve, sem contraditar a presidente – pelo contrário, houve até momentos em que a elogiou. Daí, tão logo a entrevista foi ao ar, o governo usou parte do vídeo para prestigiar a administração Dilma Rousseff. E em muitos pontos, reconheça-mos, ação do marketing governista até fantasiou os feitos da presidente.
Bem, mas o ponto central da coluna é muito além disso.
Após a entrevista, milhares de internautas destilaram ódio sobre o apresentador, em comentários de reprovação que inundaram as redes sociais. O assunto chegou a ser um dos mais comentados do Twitter naquele dia.
O ódio deixou sinais no mundo material. No asfalto, em frente ao prédio onde mora o apresentador, picharam uma frase que sugere uma sentença de morte para Jô Soares. Vejam, na foto que reproduzimos, o ódio estendido no chão.
E por que tanto raiva, tanta ódio?
O mais provável é que os revoltados tivessem a expectativa de uma entrevista questionadora, crítica, botando o dedo na ferida do governo, que todos sabemos, no momento, serem os reflexos do ajuste econômico, da volta da inflação, do desemprego, da corrupção que envolve o partido que está no Poder, das promessas da campanha eleitoral que foram esquecidas.
A repulsa que tem se traduzido na queda de popularidade da presidente mudou de alvo, e tranferiu-se para o apresentador. Entrevistado após a repercussão negativa da entrevista, Jô Soares disse à Folha de São Paulo que não se arrepende da forma como conduziu a conversa, e declarou-se abertamente como um “anarquista intelectual”, sem pontos políticos a defender enquanto artista.
Discussões sobre o governo atual à parte, me questiono muito sobre como cresce o sentimento de ódio, o desamor, a falta de respeito entre as pessoas. Atenção: não estou aqui avaliando o governo Dilma Roussef; estou questionando o desrespeito dos cidadão para com o outro.
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