População se volta contra governo de militares que chegaram ao poder após golpe realizado em 2021

Fonte: Portas Abertas

Na última quinta-feira, 8 de dezembro, centenas de manifestantes tomaram as ruas em Cartum, capital do Sudão, exigindo a destituição dos governantes militares e rejeitando um acordo assinado entre os líderes do golpe e uma facção do antigo bloco civil e diversos outros aliados na segunda-feira, 5 de dezembro.


Os manifestantes foram liderados pelo Comitês de Resistência, grupo de base que rejeita qualquer negociação com os líderes militares do Sudão, os generais Abdel-Fattah Burhan e Mohammed Hamdan Dagalo. O grupo de protesto pede que ambos, que lideraram um golpe no último ano, sejam julgados no tribunal. Forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e mangueiras de água contra os manifestantes, mas não houve relatos de vítimas.


Embora o último acordo tenha sido bem recebido por parceiros internacionais do Sudão, o telejornal PBS NewsHour relata que ele oferece apenas contornos muito amplos de como o país fará sua retomada para a democracia e evita questões políticas sensíveis relativas, por exemplo, “à reforma no Exército, e uma política que promete ver várias facções armadas do país integradas em uma única força de combate”.


Também não está claro como será equilibrado o poder entre um novo governo civil e militar. Segundo o acordo, um exército reformado fará parte de um “conselho de defesa e segurança” supervisionado por um novo primeiro-ministro. Entretanto, comentaristas levantaram questionamentos sobre se os militares realmente cumprirão essa promessa. Futuras negociações para um acordo mais inclusivo são esperadas.


Tanto a Organização das Nações Unidas quanto os Estados Unidos da América, que intermediaram meses de negociações entre os partidos junto a diversos outros atores internacionais, reconhecem a fragilidade do acordo e pediram por conversas posteriores.

Anos de turbulência

O Sudão enfrenta mais de três anos de turbulência, desde quando o antigo presidente, Omar al-Bashir, foi deposto em uma revolta civil, em abril de 2019. Um frágil governo de transição teve dificuldade em permanecer no poder, sob a liderança do primeiro-ministro Abdallah Hamdok. O governo de transição era constituído por forças civis que lideraram o levante e líderes militares, objetivando restaurar relações internacionais e desfazer o dano de anos de isolamento causados devido ao brutal apego ao poder de Bashir.


O general Abdel-Fattah Burhan disse que o golpe de 25 de outubro de 2021 foi um ato do exército para impedir uma guerra civil já que grupos políticos incitavam civis contra as forças de segurança. Ao menos 119 civis foram mortos desde o golpe ao protestarem contra esses eventos, de acordo com a BBC.


Além disso, centenas de funcionários demitidos tiveram autorização para voltar ao trabalho no banco central, judiciário, promotoria, emissora estatal e ministérios governamentais. Centenas de contas bancárias pertencentes ao partido do Congresso Nacional também foram descongeladas, e alguns dos principais membros do partido foram libertos da detenção. O general Burhan também começou a atribuir posições influentes no governo para antigos membros do mesmo partido.

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