Mesmo com a guerra não tendo acabado no país, por meio da sua doação casas de cristãos sírios são reconstruídas
Fonte: portasabrtas
Em breve, 36 famílias retornarão para suas casas em Al Qasab, na Síria. A guerra no país teve início há 9 anos, exatamente no dia 15 de março de 2011. Porém, o impacto do conflito foi sentido em momentos diferentes de acordo com cada cidade e região. A vila de Al Qasab foi atacada por extremistas islâmicos no dia 3 de setembro de 2012. O motivo do ataque é desconhecido, mas uma das possibilidades é por causa de uma estrada, recém-inaugurada na época, que liga a cidade costeira de Latakia com a importante Alepo, no norte do país.
Al Qasab é uma pequena vila cristã localizada em um monte próximo à estrada. Para chegar ao vilarejo, é necessário passar pela ampla rodovia esperada muito tempo pelos moradores. Porém, no caminho há muita sujeira e sacos de areia que bloqueiam a passagem, forçando os carros a desviar. Ao chegar às vilas desertas, a cada 500 metros, vê-se aproximadamente de 10 a 15 buracos. “Aquilo são de bombas dos terroristas. Esse lugar era inalcançável pelo regime”, disse um morador.
A estrada pela qual as pessoas tanto esperaram se tornou de importância estratégica para grupos rebeldes, a quem os sírios consideram terroristas. Eles forçaram todas as pessoas de Al Qasab a sair das casas, com nada além das roupas que vestiam e coisas que pudessem carregar.
Na entrada da vila, a placa de Al Qasab está cheia de buracos de bala. A esposa do prefeito conta a história do dia, uma segunda-feira inesquecível, quando bombas começaram a cair, destruindo casas e matando animais. As bombas foram seguidas por extremistas que vieram pegar o que não era deles e controlaram a pequena e pacífica vila. “Cerca de 50 homens armados ordenaram que deixasse minha casa. Mas eu disse: ‘Não, eu sou uma patriota e morrerei aqui em minha casa’. Eles trouxeram um rifle de caça e me ameaçaram. Um deles apontou a arma para mim e disse que me mataria. Eu respondi: ‘Me mate, eu vou morrer só uma vez’. Então ele me deixou e foi ameaçar meu marido”, disse ela.
O prefeito acrescentou: “Dois homens me tiraram de casa. Havia cerca de 50 homens apontando as armas para nós. Eu gritei: ‘Se vocês forem Deus, então podem levar minha alma, mas se não, me deixem’, então eles me deixaram ir. Apesar disso, naquele momento nossa casa já estava destruída. Esperamos poder voltar para ela um dia”.
Cerco a Al Qasab
As pessoas de Al Qasab foram cercadas na vila durante vários dias até que a igreja negociou a passagem dos civis, que foram levados para Latakia. Ao andar por Al Qasab é fácil imaginar as histórias sobre a invasão. O cenário é composto de casas destruídas, lemas islâmicos nas paredes, buracos de tiros em todas as janelas e uma única igreja bombardeada que foi reconstruída. A igreja tem novamente uma cruz erguida. Nabil Khoury, um homem em seus 50 anos, explicou o que aconteceu com a igreja quando os extremistas atacaram a vila: “A igreja foi destruída. Eles quebraram e profanaram o altar, a mesa da ceia, os assentos e queimaram os livros. Também derrubaram a cruz assim que entraram na vila”. A igreja agora está restaurada apenas esperando a volta dos moradores.
A casa de Khoury foi destruída. “Eu coloquei a renda de toda minha vida aqui, apenas para passar um verão nela e agora ela estar no chão. Eu nasci e cresci nessa vila. A reconstrução mudará nossas vidas.”
Na vila há uma casa coberta de escritos islâmicos. “Essa costumava ser a casa do líder do grupo de extremistas. Nela escreveram ‘Allah Akbar’ (Alá é grande, em árabe) e alguns versos violentos do Alcorão sobre matar e a jihad”, disse Moufid Tannous, um homem de 61 anos que viveu a vida toda em Al Qasab. “Minha casa é perto de onde o líder deles vivia. Havia de 10 a 12 veículos fortemente armados estacionados em frente a essa casa o tempo todo e, quando não podíamos sair da vila, ouvia barulhos aterrorizantes vindos dessa casa, dia e noite.” Moufid não sabe o que acontecia lá dentro: “Eu ouvia pessoas gritando, podiam ser lutas ou tortura de prisioneiros. Eu não sei o que faziam”.
Moufid chorou ao compartilhar a história do irmão. “Quando o bombardeio à vila começou, liguei para meu irmão Moutiea, mas ele não atendeu. Então, liguei para seus vizinhos e eles também não responderam. Quando saí de casa, vi mísseis vindo como chuva sobre a vila. Então, às 22h eu recebi uma ligação. Alguém disse que meu irmão tinha morrido, que não chegaram ao hospital a tempo para salvá-lo. Independentemente do que dissermos sobre o que a guerra fez conosco, na realidade foi mais. Agora me sinto 25 anos mais velho do que realmente sou”, explicou. Moufid ficou surpreso com o interesse dos extremistas em Al Qasab: “Nós não somos uma base militar. Somos pessoas simples. O que fez eles nos alvejarem? O que tornou nossa vila interessante?”.
Cristãos sírios precisam de nosso apoio
Walid Tannous, outro irmão de Moufid, escapou dos destroços de sua casa. “Eles atacaram às 4h30 da manhã. Nos mandaram fugir para a Turquia. Quando dissemos não, ameaçaram levar nossas mulheres para a Turquia como escravas e nos fazer combater ao lado deles. Insistimos e dissemos que preferíamos morrer naquele momento. Então, eles começaram a jogar com nossas emoções. Mas, no final, alguém negociou nossa liberdade, não sei quem, mas finalmente nos deixaram ir”, contou.
Quanto à reconstrução das casas, Walid compartilhou: “Muito obrigado pelo que estão fazendo por nós e nossa vila. Que Deus abençoe vocês e dê boa saúde e prosperidade”.
Os moradores da vila enfrentaram muitas dificuldades, mas agora a vila e os moradores estão renascendo das cinzas. Por causa da restauração das casas, as pessoas ganharam nova esperança e uma oportunidade de voltar à vida normal. Em breve, plantarão vegetais, cuidarão dos animais e criarão os filhos e netos na vila que amam.
As 36 casas das famílias cristãs da vila serão restauradas ainda no primeiro semestre de 2020. O trabalho começou em dezembro de 2019 e, com o seu apoio, deve estar pronto no começo de maio deste ano. Sua doação apoia cristãos perseguidos na Síria, por meio de vários projetos da Portas Abertas, como a reconstrução de casas e igrejas, reabertura de escolas e bibliotecas, e microcrédito. Faça a diferença na vida desses irmãos e irmãs.
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