O Comitê da Rio-2016, responsável pela organização da Olimpíada, escolheu apenas cinco religiões para terem representantes em seu centro inter-religioso, montado na Vila Olímpica para atender atletas que participarão do evento. Somente cristãos, judeus, muçulmanos, budistas ou hindus terão sacerdotes de suas religiões no espaço.
Os capelães ficarão disponíveis em esquema de plantão para atender os competidores que buscarem aconselhamento e conforto espiritual durante o período dos Jogos.
A ausência de representantes de religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda – essa última, nascida no Brasil, no próprio Rio de Janeiro – vem sendo criticada por seguidores dessas crenças. Outra religião muito popular no país, o espiritismo, de origem francesa, também não terá representantes de plantão no local.
De acordo com o censo populacional de 2010 do IBGE, espiritismo e candomblé/umbanda são as religiões com mais praticantes no país depois dos católicos e dos evangélicos.
A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa marcou uma reunião na tarde desta quarta-feira, no Rio, para definir como a entidade fará uma reclamação formal ao comitê.
De acordo com o Comitê Rio-16, a escolha das cinco religiões “oficiais” se baseou em resultados históricos de pesquisas feitas pelo Comitê Olímpico Internacional: essas seriam as doutrinas indicadas pela maioria dos atletas.
“Não importa o número de praticantes de uma determinada religião, até porque muitos atletas não assumem sua fé temendo a intolerância. Ou você representa todas as religiões ou não representa nenhuma. Essa exclusão, que tentam camuflar, só reforça o preconceito contra as crenças que já são marginalizadas”, afirmou Fátima Damas, da comissão de combate à intolerância. “Perdeu-se a oportunidade de usar um evento dessa importância, realizado no nosso país, para corrigir essa questão”. Fátima também é presidente da Congregação Espírita Umbandista do Brasil.
A falta de representatividade das religiões de matriz africana também foi criticada por Cláudia Matos, diretora do Movimento Umbanda do Amanhã. Ela vê incoerência no fato de os Jogos do Rio se utilizarem de alguns símbolos nacionais para autopromoção, mas esconderem outros, como os religiosos.
“É muito frustrante”, admite ela. “A umbanda é a única religião genuinamente brasileira, é uma mistura de várias tradições do país com elementos africanos, é numericamente importante em termos de praticantes. Não ser representada em um evento desse porte no Brasil me parece um pouco de desconhecimento ou até intolerância.”
Padre diz que acolherá todas as crenças
O centro ecumênico já foi montado em outros Jogos Olímpicos. A coordenação dessa vez ficará a cargo do padre Leandro Lenin, que costuma correr até 10km diariamente e já foi capelão do Time Brasil no Panamericano de Toronto, em 2015.
Ele afirma que a intenção do centro é oferecer conforto espiritual aos atletas e também “chorar com os que choram”, no caso de derrotas. Ciente do burburinho causado pela não representação de religiões minoritárias, o padre afirma que praticantes de outras fés também serão contemplados no centro, desde que façam uma solicitação.
“Não conseguiremos oferecer a todas as religiões a representatividade territorial, mas o Comitê Rio-2016 está disposto a acolher todos os atletas”, disse o padre. “Se ele faz o pedido para uma religião específica que não esteja contemplada ali, nós acionaremos esse representante para dar conta do chamado.”
Comitê Rio-2016 nega exclusão de cultos minoritários
O posicionamento do padre reflete o do próprio comitê Rio-2016, que, em contato com a reportagem, negou que haja algum tipo de exclusão de religiões de matriz africana, provocada por um suposto preconceito. O comitê alega que seria inviável representar as mais de 10 mil religiões que existem no mundo, reafirmou que o centro estará aberto a atletas de outras crenças e que, caso algum deles deseje, pode requerer a entrada de um líder religioso.
Não haverá, segundo a assessoria do comitê, veto para que se realize qualquer cerimônia ou aconselhamento religiosos no centro. O Comitê, no entanto, não soube explicar como será feita a autorização para a entrada de pessoas na Vila Olímpica, já que haverá um rígido controle de entrada e saída do espaço por questão de segurança.
Para Candomblé, comitê perdeu chance de fazer um gesto de tolerância
O babalawo Ivanir Dantas, sacerdote ligado ao candomblé, também criticou a ausência de representantes de crenças não milenares na Vila Olímpica.
“É lamentável a atitude”, disse ele. “Vivemos um momento de desrespeito, perseguições, e agressões a religiões consideradas minoritárias. Seria uma ótima oportunidade de a Olimpíada incluir essas duas [candomblé e umbanda], que fazem parte da identidade do país.”
O líder destacou a vontade de “se sentir incluído em um contexto de diversidade religiosa”. “Seria um gesto de solidariedade incluir essas religiões, mandar um sinal para a sociedade e dizer que não aceita a distância, a perseguição a esses grupos.”
Fonte: UOL
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