“Se alguém perguntar ‘como’ eu consegui sair dali, eu só posso responder: ‘Deus pegou em minhas mãos e me puxou, ele me colocou de pé’. Deus é maravilhoso”
Na África, há muitos casos de cristãos que foram acusados formalmente de blasfêmia por causa de sua fé, mas normalmente, o que ocorre com mais frequência é a contenda entre as etnias, a violência da multidão e a perseguição religiosa. Yakubu*, um cristão de Yobe, norteste da Nigéria, é um dos muitos exemplos do preço que se paga para seguir a Cristo em solo africano. Praticamente, todos os crimes cometidos contra a igreja ficam impunes. Um dia, Yakubu caiu nas mãos dos militantes do Boko Haram e quase foi decapitado. Milagrosamente, ele viveu para contar essa história. “Eu cresci num lar cristão e, até hoje, não há nada que eu goste mais de fazer do que ler as Escrituras. A Bíblia é meu alimento diário, que me ajuda a levantar todas as manhãs com alegria dentro do meu ser. Viver em Yobe sendo um cristão declarado não é fácil. A violência bate na porta dos seguidores de Cristo, todos os dias, e é triste ver os irmãos morrendo bem na nossa frente. Mas essa é a nossa realidade. Quando alguém bate em nossa porta, definitivamente sabemos que chegou o nosso dia”, conta Yakubu, que conheceu esse dia no final de 2012.
“Depois da escola eu ia trabalhar na farmácia, todas as sextas, no final da tarde. Mas naquele dia eu não me sentia muito bem, então voltei para casa. No caminho percebi a cidade agitada e fiquei sabendo de um ataque do Boko Haram. Corri para o meu quarto, peguei minha Bíblia, orei e acabei adormecendo”, conta. Mas por volta de meia noite, alguém bateu em sua porta. “Cerca de 20 soldados armados do Boko Haram invadiram a minha casa. Tentei fugir, mas não houve tempo. Primeiro eles pediram dinheiro, mas como eu não tinha nada, eles saquearam tudo e anunciaram a minha morte. Um deles me empurrou e eu caí com o rosto no chão, o outro veio com uma faca, fez uma prece em árabe e cortou o meu pescoço por trás. Quando viram que não morri, sugeriram cortar de frente e assim foi feito. Foram embora e me deixaram para morrer.. Não havia ninguém para me ajudar, mas Deus me deu forças para levantar. Se alguém perguntar ‘como’ eu consegui sair dali, eu só posso responder: ‘Deus pegou em minhas mãos e me puxou, e ele me colocou de pé’. Deus é maravilhoso”, testemunhou Yakubu.
Então o cristão ferido caminhou pelas ruas em busca de socorro. O líder da comunidade foi ao seu encontro e o encaminhou ao atendimento de emergência. “Eu já havia perdido tanto sangue que não conseguia mais enxergar nada, até que perdi a consciência. Semanas se passaram, então voltei para casa. A cicatrização foi lenta, mas eu sobrevivi e sei que foi um milagre. As marcas estão aqui para comprovar”, diz ele. A realidade é dura na Nigéria. Cerca de 11.500 cristãos foram atacados da mesma forma, mas não sobreviveram. Dentro das estatísticas ainda, cerca de 1,3 milhões já foram deslocados internamente, 13 mil igrejas estão fechadas e ainda milhares de empresas e residências de cristãos foram destruídas. O testemunho de Yakubu mostrou que as cicatrizes estão limitadas ao seu corpo.
“Eu não tenho ódio deles, o cristianismo me ensinou a amar meus inimigos. Com Jesus eu não tenho medo, por isso não vou abandonar o evangelho. Eu não nasci para agradar aos homens, mas para agradar a Deus. Minha esperança agora é ver Jesus naquele ‘grande dia’ e enquanto isso, eu sigo pregando as boas novas. Se Deus preservou a minha vida, tenho que fazer valer a pena. Gosto de dizer para os muçulmanos que sou ‘perseguido, mas não abandonado’, como diz a Bíblia, em 2 Coríntios 4.9, e digo a eles ‘eu ainda estou vivo’, para que eles saibam que cristianismo é vida. Ao andar pela cidade agora, todos sabem que eu sou um cristão. As pessoas me apontam e dizem: ‘Olha aquele cara, Deus está nele’. Yakubu finaliza seu testemunho deixando uma mensagem aos cristãos que estão espalhados por todo o mundo: “Irmãos, eu sei que a minha história causa certa dor para quem lê, mas creiam que é uma dor que gera alegria. O meu sofrimento faz parte da minha jornada para o céu e eu preciso dizer isso a vocês: ‘por mais difícil que pareça ser esse caminho, não desistam. Estamos chegando tão perto. A minha oração de todos os dias é que meus olhos possam ver esses irmãos, que hoje choram comigo, todos unidos no reino de Deus”, conclui o cristão nigeriano.
*Nome alterado por motivos de segurança.
Fonte: https://www.portasabertas.org.br
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