Saiba como cristãos tribais são afetados ao decidirem deixar a tradição local para seguirem a Jesus
Fonte: Portas Abertas
A opressão do clã é um dos nove tipos de perseguição classificados pela Portas Abertas. Ela apresenta uma situação de perseguição em que um clã ou os parentes forçam a influência de normas e valores ancestrais ou um sistema de crenças tradicionais. Esse tipo de perseguição pode ser comparado à opressão islâmica e ao nacionalismo religioso, afinal há sempre a combinação de um aumento de pressão gradual e uma ocasional violência de fato. Vale ressaltar que a opressão do clã não se refere a conflitos interétnicos.
Quantos países da Lista Mundial da Perseguição 2023 têm a opressão do clã como o principal tipo de perseguição?
Dos 50 países classificados na LMP 2023, apenas dois têm a opressão do clã como principal tipo de perseguição: Iêmen e Jordânia. Porém, a opressão do clã também está presente em outras 30 nações da LMP 2023. São elas: Somália, Líbia, Irã, Afeganistão, Sudão, Índia, Síria, Arábia Saudita, Mali, Iraque, Argélia, Mauritânia, Uzbequistão, Colômbia, Burkina Faso, República Centro-Africana, Vietnã, Turcomenistão, Níger, Laos, Moçambique, Catar, República Democrática do Congo, México, Etiópia, Turquia, Tajiquistão, Camarões, Omã e Cazaquistão.
No Iêmen, o governo muitas vezes é secundário se comparado às autoridades tribais tradicionais
Como a opressão do clã se manifesta?
O que acontece em muitas comunidades indígenas no México é um bom exemplo de opressão do clã. Ela pode se manifestar em forma de pressão quando as autoridades não permitem que os filhos de uma família cristã frequentem a escola. Em forma de violência, ela ocorre quando famílias cristãs são expulsas da vila porque não querem mais participar de cerimônias tradicionais não cristãs. Esse tipo de perseguição geralmente abrange apenas partes do território do país. Apesar disso, pode cruzar as fronteiras da nação, de acordo com o território em que vivem os grupos étnicos.
A opressão do clã pode ser identificada no caso da cristã Mae Seng (pseudônimo), de 60 anos, que morava com a neta em uma pequena casa no Sul do Laos. Desde 2020, quando Mae se tornou cristã, ela enfrenta perseguição dos vizinhos no vilarejo. Há quase três anos, ela recebe outros cristãos aos domingos para cultuarem. Ao menos dez irmãos na fé se reuniam na casa de Mae, até que as autoridades descobriram as reuniões e demoliram a casa da cristã no início de 2023.
As autoridades locais invadiram a casa e derrubaram as paredes. Depois destruíram o piso e o telhado. Não importava o quanto Mae implorava para que parassem, as autoridades continuaram. Depois de pôr a casa abaixo, exigiram que ela e a neta saíssem do vilarejo e disseram: “Pare com esses encontros. Se vocês não abandonarem o cristianismo, devem sair imediatamente do vilarejo”. Ela implorou que voltassem atrás e reconstruíssem a casa, pois não tinham para onde ir.
As autoridades permaneceram inflexíveis e pediram que assinassem um documento negando a fé em Jesus, mas Mae se recusou a assiná-lo. Após muitas conversas, eles aceitaram reconstruir a casa e deixar a cristã viver no vilarejo temporariamente. Mae disse: “Não tenho certeza de como será o futuro. Apesar de conseguir mais tempo no vilarejo, não sei se meus vizinhos virão novamente para nos expulsar de vez. Se isso acontecer, não temos para onde ir”. O trauma e o medo abalaram intensamente a fé dela em Jesus.
Mae viu a casa ser destruída diante de seus olhos
Opressão do clã e as autoridades do governo
No Iêmen, a sociedade é fortemente tribal e o governo muitas vezes é secundário quando comparado às autoridades tribais tradicionais. Há muitas áreas onde anciãos tribais cumprem as leis e a justiça de acordo com suas tradições de base islâmica, independentemente do que a Constituição ou o governo dizem. Além disso, é improvável a intervenção do governo em conflitos tribais, mesmo que haja danos físicos ou pessoas presas. Como atualmente o governo não tem o controle de grande parte do país, sua influência nas tribos é cada vez menor.
As leis e costumes tribais proíbem os membros de deixarem a tribo ou, no caso de mulheres, de se casar com alguém que não seja da tribo, principalmente com um cristão. A punição pela desobediência pode ser morte ou banimento. Alguns chefes tribais têm seu próprio exército cujos combatentes são muçulmanos radicais e anticristãos.
Já na Jordânia, a opressão do clã revela como a contínua influência das normas e valores ancestrais moldados em um contexto tribal são aplicados e podem aparecer na forma de religiões tradicionais. No caso da Jordânia, a sociedade é basicamente tribal – principalmente fora das maiores cidades – e se integra ao nacionalismo jordaniano. O tribalismo torna a divisão étnica entre nativos e palestinos mais aparente e age como uma rede de segurança socioeconômica. Por causa dessa vantagem social para nativos, o tribalismo se tornou ainda mais integrado ao conceito de nacionalismo jordaniano.